Termina 2020, começa 2021: é hora de fazer o possível

Ilustração de outubro de 2019 para a Folha de S.Paulo
Olá, como tem passado?

Você já deve ter ouvido a frase: "são infinitas possibilidades". Que tristeza falar ou escutar uma frase desta sem ao menos refletir no que está sendo dito.

Se você tem uma, duas ou até três opções de escolha, você consegue – modulado aos seus anseios – optar pela alternativa que melhor lhe atenda.

Com as "infinitas possibilidades" você simplesmente não consegue escolher, não toma partido, não inicia, você não faz nada. Como que num sistema de engrenagens muito bem reguladas, o questionamento virá: "como posso ter o poder de escolher o que quiser entre todas as infinitas possibilidades e mesmo assim não conseguir fazer nada?" Penso que isso seja uma excelente fórmula para a ansiedade, depressão e os demais derivados que nos afetam.

O ano de 2020 não é para ser esquecido por alguns motivos: 1) foi um ano que apresentou e carregou tantas coisas nunca vividas por 99,9% das pessoas do planeta afetando a cada um(a) a sua maneira 2) foi um ano onde o pensamento raso, superficial e sem embasamento venceu, tomou conta de redes sociais e a frase "um amigo meu que é cientista disse..." tem mais propriedade do que qualquer estudo científico publicado em uma revista de renome mundial sobre o assunto e, para finalizar, 3) os negacionistas e os antivacinas vieram para ficar.

Depois destes quatro parágrafos você pode se questionar: "mas este é um blog de um ilustrador, um quadrinista, um artista, não é? Onde ele quer chegar?"

Respondo: continuo o movimento mas não para chegar em lugar algum (mesmo que "lugar algum" já seja um lugar). Aqui parece ser necessário continuar com este diálogo na forma de perguntas e respostas mas não vou por esse caminho.

Como já de costume (e não faço ideia desde quando fazemos isso), sempre que um ano termina e outro começa prometemos um tanto de coisas que pretendemos fazer neste novo período. Prometer é fácil, montar os planos na cabeça é ainda mais tranquilo até que o tempo escorre e acontece o que sempre acontece. Você não fez nada ou muito pouco do que foi idealizado.

Tomo janeiro de 2020 como o exemplo laboratorial perfeito para isso. Quando imaginaríamos uma pandemia? Ah, mas uma pandemia é algo improvável de acontecer novamente. Isso não sei. O que sei é que ainda estamos no meio deste turbilhão pandêmico mas com a possibilidade da vacina ainda para 2021.

Por isso é hora de fazer o possível, aquilo que esteja ao alcance e que conseguirá cumprir; começar, elaborar e se tudo der certo, terminar. Isso já é algo grandioso por mais simples que possa parecer a tarefa que se propôs. Aqui vale fazer uma ilustração, uma HQ curta, fazer um bolo, um almoço, ler um livro, começar a estudar algo novo, andar de bicicleta, ficar fora das redes sociais ou mesmo se o seu possível for ficar uma semana quietinho(a), que seja.

Sigamos na concretude e no movimento do possível.

Um abraço.

Luciano Salles.

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