Oficina de criação de personagem na Fundação CASA

"Reimo" foi um dos personagens criados
no encontro. Foto cedida pela instituiçao.
Olá, tudo bem com você?

No dia 10 de maio, dei uma aula de desenho e criação de personagens na Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) que, antigamente, tinha o nome de FEBEM.

ADENDO: devido às normas da instituição, fotos dos internos não são permitidas e por isso, para ilustrar a postagem, usei um desenho resultante da oficina.

Estava com tudo preparado. A apresentação para projeção, exercícios práticos, exercícios para reflexão e expansão da percepção, folhas de sulfite, lápis e tudo mais para boas horas de trabalho.

Era hora de ir para a Fundação Casa.

Como disse, estava com tudo preparado em minha mochila mas, a partir do momento que olhei a porta de entrada da Fundação, percebi que não estaria apto para o que encontraria.

Passando a primeira porta, recebi uma revista de praxe em uma sala minúscula com apenas um banco de alvenaria. Dali seguimos por um caminho tranquilo e entramos em um prédio que mais parecia uma escola. Um corredor com salas nas laterais.

Ao final do corredor viramos a esquerda, andando um pouco mais e saímos dessa área; paramos em frente a uma porta de barras de ferro de aproximadamente 4 cm de diâmetro. Entramos por ali e ficamos enclausurados entre essa porta e outra totalmente fechada com apenas um pequeno vidro escuro. Avisaram que era a funcionária "Juliana" com o rapaz que daria o curso de desenho. Nossa passagem foi liberada.

A sensação e sentimentos que tive foram de apequenar minha existência. Fiquei angustiado com aqueles muros de mais de 4 ou 5 metros de altura além de metros e metros de concertinas. Antes deste muro ainda havia um gradil muito alto.

Ela me levou onde aconteceria a aula e começamos a montar o projetor quando um menino apareceu na porta. Era um interno. Uma criança.

Percebi que para os funcionários, aquele é um ambiente normal de trabalho e a situação passa a ser rotineira e, de certa forma, comum. Qualquer pessoa que trabalhe em um local de reclusão de pessoas se acostuma com o ambiente assim como nos acostumamos a trabalhos em bancos, contando muito dinheiro que não é nosso, ou qualquer outro lugar de trabalho.

Os meninos iam entrando e a turma se formou com 12 garotos entre 15 e 18 anos. Entre os que estavam diretamente envolvidos na oficina (eu e a garotada reclusa), eu era o único branco.

As duas horas e trinta minutos passaram num piscar de olhos e a oficina foi fantástica com um resultado incrível! Fechamos a oficina, fizemos uma foto muito legal de toda turma, nos despedimos com abraços e voltei para o meu estúdio.

Ainda penso muito sobre essa oportunidade incrível que tive.

Ainda penso muito naqueles muros e concertinas.

Ainda penso muito em como meninos entram e saem em um fluxo quase que "natural" pela instituição.

Ainda penso muito que nascer aqui ou ali, determina, em grandes percentuais, sua passagem por um centro de reclusão e ressocialização.

Ainda penso muito.

Um abraço.

Luciano Salles.

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